Atlas de Anatomia Veterinária
Sagui-de-cara-suja (Saguinus fuscicollis)
DESCRIÇÃO GERAL
Nome científico: Saguinus fuscicollis
Nome comum: Sagui-de-cara-suja.
Estado de Conservação: IUCN NT / CITES Ap II
Descrição: Comprimento corporal: 17-27 cm; Peso: 338-436 g.
Distribuição: Floresta Amazônica da Bolívia, Brasil (Acre, Amazonas, Mato Grosso, Rondônia), Colômbia, Equador e Peru.
Hábitat: Tem preferência por florestas altas primárias, utiliza com menor frequência florestas secundárias e inundáveis. Pode habitar em florestas primárias, secundárias, remanescentes e em recuperação. Tem preferência por florestas de colina. A altitude varia entre 100 metros a 1.200 metros sobre o nível do mar.
Reprodução: Estacional.
Maturação sexual: 23 meses.
Gestação: 4-5 meses.
Prolificidade: 2 filhotes por gestação.
Intervalo de partos: 12 meses.
Duração do ciclo estral: 15,5 dias.
Hábitos alimentares: Preferência por poupas de frutas e insetos. Alimentam-se de frutos, flores, néctar, exsudatos das plantas (gomas, sulcos, látex) e pequenos animais (rãs, caracois, lagartos, aranhas e insetos). Os saguis-de-cara-suja têm adaptações morfológicas e comportamentais que lhes permite mastigar os troncos de árvores, ramos e videiras de determinadas espécies para estimular o fluxo das gengivas, que pode chegar a ser um componente importante de dieta.
APARELHO DIGESTÓRIO
Estômago
O estômago do sagui-de-cara-suja é monocavitário, ligado ao esôfago pelo cárdia, e disposto no antímero esquerdo. O estômago se une caudalmente ao piloro duodenal localizado no antímero direito.
A curvatura maior do estômago se localiza caudoventralmente. A curvatura menor, disposta craniodorsalmente, se caracteriza pela presença de uma profunda incisura angular que lhe proporciona um acentuado formato de gancho. No estômago é possível identificar um fundo pouco desenvolvido, um corpo e uma parte pilórica composta pelo antro e canal pilórico. Toda mucosa do estômago possui caráter glandular
Intestino
O intestino dos primatas atinge de uma a três vezes o comprimento corporal, sendo consideravelmente mais curto que o dos herbívoros, o qual chega a ter um comprimento 25 vezes maior que o comprimento corporal. No sagui-de-cara-suja o comprimento total do intestino atingiu apenas 4,8 vezes o comprimento corporal.
Intestino delgado
O intestino delgado se situa entre o piloro e o óstio ileal. Suas alças estão dispostas no espaço entre o fígado e o estômago (cranialmente) e a entrada da pelve (caudalmente). É constituído por três porções:
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Duodeno: a porção mais proximal do intestino delgado se estende entre o piloro e a flexura duodenojejunal;
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Jejuno: é a porção de maior comprimento;
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Íleo: é um curto segmento que se une ao ceco por meio da prega ileocecal. Sua espessa camada muscular evita o refluxo do conteúdo do intestino grosso.
Intestino grosso
O intestino grosso se estende do óstio ileal ao ânus. Suas três porções são:
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Ceco. O sagui-de-cara-suja apresenta um ceco muito desenvolvido. O volume cecal geralmente está relacionado com a proporção de celulose do alimento, exceto no caso de mamíferos capazes de realizar processos fermentativos em seu estômago policavitário;
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Cólon. O cólon do sagui-de-cara-suja é muito simples, apresenta um tamanho importante. É formado pelo cólon ascendente, muito curto e disposto à direita da cavidade abdominal; cólon transverso, disposto transversalmente por trás do estômago e passando da direita para a esquerda da cavidade abdominal; cólon descendente, mais longo e chega até a entrada da cavidade pélvica. O diâmetro do cólon é maior que o do intestino delgado;
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Reto. Situa-se na cavidade pélvica e termina no canal anal.
Na Tabela 13 encontram-se as dimensões (em cm) das diferentes porções do aparelho digestório do sagui-de-cara-suja.
Fígado
O fígado é protegido pelas costelas na porção intratorácica da cavidade abdominal. Apresenta uma face diafragmática, em contato com o diafragma, e uma face visceral, em contato com o estômago. Nos primatas, os lobos do fígado são separados por profundos septos ou fissuras interlobares.
No sagui-de-cara-suja, os septos são especialmente acentuados, permitindo o deslizamento dos lobos entre si durante grandes movimentos de extensão e de flexão do tronco.
O padrão lobar do fígado do sagui-de-cara-suja é o seguinte:
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Lobo lateral esquerdo;
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Lobo medial direito;
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Lobo quadrado;
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Lobo caudado, em que se diferenciam o processo papilar e o processo caudado;
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Lobo lateral direito;
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Lobo medial esquerdo.
A vesícula biliar encontra-se entre o lobo quadrado e o lobo medial direito.
APARELHO RESPIRATÓRIO
A troca gasosa entre o ar e o sangue ocorre nos alvéolos pulmonares. Para alcançar os alvéolos, o ar inspirado atravessa a cavidade nasal, nasofaringe, laringe, traqueia e brônquios, incluindo as diferentes subdivisões que eles apresentam.
Laringe
A laringe é um órgão tubular cartilaginoso que comunica a nasofaringe com a traqueia. A cartilagem aritenoide do sagui-de-cara-suja apresenta processos corniculado e cuneiforme. Da mesma forma, apresenta um ventrículo laríngeo limitado pelas pregas vestibular e vocal.
Traqueia, árvore brônquica e pulmões
A traqueia é formada por um conjunto de cartilagens unidas entre si pelos ligamentos anulares. A árvore brônquica é formada por sucessivas divisões dos brônquios principais. Cada um dos brônquios principais se ramifica em vários brônquios lobares. Esses, acompanhados de artérias, veias, vasos linfáticos e ramos nervosos penetram no pulmão por meio do hilo do órgão. O conjunto de estruturas que atravessa o hilo pulmonar recebe o nome de raiz do pulmão.
A divisão dos brônquios principais em brônquios lobares determina o padrão de lobação do pulmão. A lobação do pulmão do sagui-de-cara-suja é a seguinte:
Pulmão esquerdo:
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Lobo cranial;
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Lobo caudal;
Pulmão direito:
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Lobo cranial;
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Lobo médio;
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Lobo caudal;
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Lobo acessório.
No pulmão é possível identificar uma superfície em contato com a parede costal (face costal), uma superfície voltada para o mediastino (face medial) e uma face diafragmática que se relaciona com o diafragma.
APARELHO URINÁRIO
Rins
Os rins são órgãos retroperitoneais dispostos dorsalmente na cavidade abdominal em ambos os antímeros da coluna vertebral. O rim direito, que é mais cranial que o rim esquerdo, está em contato com o lobo lateral direito e o processo caudado do fígado.
Os rins do sagui-de-cara-suja têm formato de feijão e o córtex renal apresenta coloração marrom clara. Embora a lobação do rim não seja visível externamente, a medula renal está subdividida em segmentos piramidais ou pirâmides renais. A base de cada pirâmide contata com o córtex, e o vértice constitui a papila renal que adentra os cálices renais e mantém estreita relação com a pelve renal. Dessa forma, os rins do sagui-de-cara-suja apresentam crista renal.
Visto que o córtex não aparece dividido externamente e que as pirâmides renais não se fundem, o rim do sagui-de-cara-suja se classifica como liso e multipiramidal.
Na borda medial do rim se encontra o hilo renal, onde se identificam estruturas que entram (artéria renal) e saem (veia renal e ureter) do rim. Por meio do hilo chega-se ao seio renal, onde se localiza a pelve renal.
Ureter e bexiga urinária
O ureter é uma estrutura tubular, que transporta a urina da pelve renal para a bexiga urinária, onde é armazenada. A bexiga urinária está localizada no assoalho da cavidade pélvica, em toda sua extensão; quando repleta, se distende amplamente na cavidade abdominal.
Uretra
A uretra é o tubo de excreção de urina para o exterior. A uretra feminina é curta e desemboca no óstio uretral externo, localizado ventralmente entre o vestíbulo da vagina e a vagina. A uretra masculina possui uma porção pélvica e uma porção peniana, é o ducto excretor da urina e sêmen.
APARELHO REPRODUTOR FEMININO
Ovários
Os ovários produzem os ovócitos ou gametas femininos, os quais são também são armazenados e maturados nesta estrutura. Os ovários atuam também como uma glândula endócrina. Os folículos não são observáveis externamente, pois não estão salientes ou visíveis no córtex do ovário; o folículo pré-ovulatório pode ser identificado. Com relação aos corpos lúteos, eles geralmente adentram completamente o parênquima ovariano.
Tuba uterina
A tuba uterina é a estrutura tubular que, após a ovulação, transporta os oócitos desde o ovário até o útero. Na tuba uterina ocorre a fecundação. A tuba uterina, ou oviduto, está inserida no mesossalpinge, que é uma dobra do peritônio derivado do ligamento largo do útero.
O mesossalpinge, juntamente com mesovário e o ligamento próprio do ovário, participa na formação da bolsa ovárica. No sagui-de-cara-suja, como nos demais primatas, a bolsa ovárica não envolve o ovário completamente.
Útero
O útero abriga o embrião ou feto durante seu desenvolvimento. As glândulas endometriais produzem secreções que nutrem o ovário antes da formação da placenta. O útero do sagui-de-cara-suja é simples, pois não apresenta cornos uterinos. Os ovidutos se fundem caudalmente em um único corpo uterino de tamanho reduzido. A gestação ocorre no corpo uterino. O colo uterino (ou cérvix) se caracteriza por apresentar parede muscular espessa que isola o útero do exterior, de modo que o lúmen do canal cervical só se abre em momentos como o parto e o cio.
Vagina
A vagina é o órgão copulador feminino e estende-se desde o colo do útero (óstio externo do útero) até a desembocadura da uretra (óstio uretral externo). Mais caudalmente encontra-se o vestíbulo da vagina, compartilhado pelos tratos genital e urinário.
Vulva
A vulva é formada por dois lábios que são unidos nas comissuras vulvares dorsal e ventral, de forma que a fenda vulvar é alongada verticalmente. O clitóris, que tem uma estrutura parcialmente homóloga ao pênis, se encontra ventralmente na fossa clitoriana.
Placentação
A placenta de mamíferos eutérios é uma estrutura formada pela aposição de membranas fetais e tecidos maternos. Sua principal função é regular a troca fisiológica entre o feto e a mãe, mas também age como um importante órgão endócrino durante a gestação.
A placenta do sagui-de-cara-suja é uma placenta hemocorial, pois existe o contato direto das células do córion fetal com o sangue materno (inclusive, o endotélio vascular está ausente); consequentemente é classificada como placenta decídua com abundante perda de tecidos. O saco coriônico se fixa às paredes do corpo uterino por meio de um único placentônio em formato de disco, o que classifica a placenta como discoidal.
CORAÇÃO E GRANDES VASOS
O coração dos mamíferos apresenta quatro câmaras:
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Átrio esquerdo;
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Ventrículo esquerdo;
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Átrio direito;
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Ventrículo direito.
O átrio esquerdo do coração recebe o sangue oxigenado dos pulmões. O sangue segue ao ventrículo esquerdo e dele, por meio da aorta e suas ramificações, se distribui aos diferentes aparelhos e sistemas orgânicos. O sangue venoso retorna ao átrio direito do coração por meio das veias cava cranial e cava caudal. O sangue flui do átrio direito ao ventrículo direito que o impulsiona ao tronco pulmonar e às artérias pulmonares para alcançar os pulmões. Finalmente, as veias pulmonares transportam o sangue oxigenado ao átrio esquerdo.
No sagui-de-cara-suja o padrão de ramificação do arco aórtico é semelhante ao do homem e aos demais primatas. O arco aórtico origina sucessivamente o tronco braquiocefálico, a artéria carótida comum esquerda e a artéria subclávia esquerda. O tronco braquiocefálico, por sua vez, origina a artéria subclávia direita e a artéria carótida comum direita.
BAÇO
O baço é um órgão linfoide que se localiza próximo à curvatura maior do estômago, ao qual está unido por meio do ligamento gastroesplênico. Possui coloração vermelha escura e formato alongado, sendo possível identificar uma face parietal e uma face visceral. Assim como no homem e os demais primatas, o baço do sagui-de-cara-suja possui hilo difuso ao longo da face visceral, por onde penetram as ramificações da artéria e veia esplênicas.