Atlas de Anatomia Veterinária
Músculos do pescoço, tronco e cauda
Músculos abdominais
Índice de imagens
Os músculos abdominais e suas aponeuroses constituem uma unidade funcional que forma o suporte fibromuscular das paredes lateral e ventral do abdome (Figura 2.59). São quatro músculos envolvidos na construção da parede abdominal. Os três músculos extensos da parede lateral do abdome (m. oblíquo externo, m. oblíquo interno e m. transverso do abdome), originam-se das regiões torácicas, lombares e pélvicas. Suas fibras se cruzam e terminam na aponeurose que finaliza principalmente na linha alba. A linha alba é um cordão fibroso que percorre a linha ventral média desde a cartilagem xifoide até o tendão pré-púbico e a borda cranial do púbis (Figuras 2.59, 2.65). Um quarto músculo, o reto do abdome, toma um sentido sagital ao longo do assoalho da cavidade abdominal, entre o esterno e a pélvis.
Uma das principais funções dos músculos abdominais é a de suportar o peso das vísceras. Neste sentido, a flexibilidade das inserções musculares (linha alba, ligamento inguinal e tendão pré-púbico) permite a adaptação da parede abdominal ao variável volume das vísceras (por exemplo, após a ingestão de alimentos ou durante a gestação). Os músculos do abdome agem também em atividades fisiológicas tais como: defecação, micção e parto, gerando pressão e contenção nos órgãos abdominais e pélvicos. Podem participar também como músculos expiratórios, pressionando as vísceras abdominais e o diafragma relaxado cranialmente, e movendo as costelas caudalmente, reduzindo o volume da cavidade torácica. Os músculos abdominais desempenham também um papel importante na construção do tronco. Ao formar uma conexão firme e flexível com o tórax, a região lombar e cíngulo pélvico contribuem para estabilizar a coluna vertebral. Participam da locomoção, pois flexionam a coluna vertebral ao mover cranialmente a pélvis e os membros posteriores quando o animal corre.
Por outro lado, deve-se recordar de outro grupo de músculos (m. psoas maior, m. psoas menor, m. quadrado lombar), situados ventralmente às vértebras lombares, que formam o teto da cavidade abdominal (Figura 2.59). Esses músculos também chamados músculos sublombares, se incluem no grupo de músculos do cíngulo pélvico (Figuras 2.29, 2.30) e são estudados, portanto, juntamente com os músculos do membro pélvico (ver também músculos dos membros pélvico do cão).
M. oblíquo externo do abdome (Figuras 2.4, 2.60, 2.61)
Origina-se a partir de digitações na face lateral das costelas (exceto das primeiras quatro ou cinco costelas) e caudal à última costela na fáscia toracolombar.
Além de contribuir para a formação da parede abdominal lateral, participam também de maneira significativa, na constituição da parede torácica (Figura 2.60). Suas fibras se direcionam caudoventralmente e continuam em aponeurose que se divide parcialmente pouco antes de sua inserção. A parte abdominal da aponeurose se insere na linha alba e no tendão pré-púbico, enquanto a parte pélvica da aponeurose se insere no arco inguinal (ou ligamento inguinal) (Figura 2.61). A pequena fenda que permanece entre as duas partes da aponeurose do músculo oblíquo externo é o anel inguinal superficial, que é a abertura externa do canal inguinal.
Função: As funções desse músculo são específicas de todo o grupo de músculos abdominais.
Inervação: Últimos 8 ou 9 nervos intercostais, nervo costoabdominal, nervos iliohipogástricos cranial e caudal e nervo ilioinguinal.
M. oblíquo interno do abdome (Figuras 2.62, 2.63)
Origina-se na tuberosidade do coxal, no ligamento inguinal e na fáscia toracolombar. Suas fibras se direcionam crânioventralmente, formando um ângulo reto com as fibras do músculo oblíquo externo do abdome (Figura 2.61). No ventre muscular continua em aponeurose que termina inserindo-se na linha alba; o músculo também apresenta inserções na última costela e no arco costal. O músculo cremáster, específico dos machos, é um pequeno fascículo muscular que se segue da borda caudal do músculo oblíquo interno do abdome para atravessar pelo canal inguinal e se dispor estreitamente associado à túnica vaginal e ao cordão espermático para finalizar nos envoltórios testiculares (Figuras 2.69, 2.70). Sua ação contribui para trazer o testículo para a parede abdominal quando a temperatura ambiental está baixa.
Função: As funções desse músculo são específicas de todo o grupo de músculos abdominais.
Inervação: Últimos nervos intercostais, nervo costoabdominal, nervos Iliohipogástricos cranial e caudal e nervo ilioinguinal.
M. transverso do abdome (Figuras 2.14, 2.64, 2.65)
É o mais interno dos três músculos que constituem a parede abdominal lateral. Origina-se na tuberosidade do coxal, nos processos transversos das vértebras lombares e na superfície interna das últimas costelas e das cartilagens costais. Suas fibras seguindo a direção vertical, continuam por meio de aponeurose que finaliza se inserindo na linha alba.
Função: As funções desse músculo são específicas de todo o grupo de músculos abdominais.
Inervação: Últimos nervos intercostais, nervo costoabdominal, nervos íliohipogástricos cranial e caudal e nervo ílioinguinal.
M. reto do abdome (Figuras 2.8, 2.14, 2.64, 2.65)
O músculo reto do abdome está disposto ventralmente formando o assoalho da cavidade abdominal. Origina-se nas cartilagens costais das costelas verdadeiras (da 5ª à 8ª) e na superfície lateral do esterno. Suas fibras seguem a direção sagital e se inserem, por meio do tendão pré-púbico, na borda cranial do púbis. O ventre muscular, que apresenta várias inserções tendíneas, está situado dentro da bainha aponeurótica (bainha do músculo reto do abdome) formada pelas aponeuroses de inserção dos outros três músculos abdominais.
Função: As funções desse músculo são específicas de todo o grupo de músculos abdominais.
Inervação: Últimos nervos intercostais, nervo costoabdominal, nervos íliohipogástricos cranial e caudal e nervo ilioinguinal.
Canal inguinal e anéis inguinais
O canal inguinal é a passagem através da parte caudoventral da parede abdominal que comunica a cavidade abdominal com a área subcutânea da região inguinal. A aponeurose do músculo oblíquo externo forma a parede lateral do canal inguinal (Figura 2.66), enquanto os ventres dos músculos oblíquo interno e reto do abdome formam a parede medial. O músculo transverso do abdome não participa na formação do canal inguinal, uma vez que não alcança a parte mais caudal da parede abdominal (Figura 2.66). O anel inguinal superficial é a abertura externa do canal inguinal. É um processo aberto na aponeurose do músculo oblíquo externo. A parte pélvica da aponeurose forma o pilar lateral do anel e a parte abdominal forma o pilar medial (Figura 2.66). O anel inguinal profundo tem um limite menos preciso. Está disposto entre a borda caudal do músculo oblíquo interno, cranialmente, e o ligamento inguinal, caudalmente (Figura 2.66).
O canal inguinal, que tem poucos centímetros de comprimento, permite a passagem de várias estruturas. No caso da fêmea pelo canal inguinal atravessa o processo vaginal do peritônio (é uma evaginação, em forma de saco, do peritônio que reveste a cavidade abdominal) (Figura 2.67). No macho, o canal inguinal é atravessado pelo cordão espermático e sua cobertura peritoneal (túnica vaginal), e o músculo cremáster (Figura 2.69, 2.70). Tanto no macho quanto na fêmea, pelo canal inguinal também passam os vasos pudendos externos e o nervo genitofemoral (Figuras 2.68, 2.69, 2.70, 2.71).
Ligamento ou arco inguinal. Espaço muscular e vascular
O ligamento inguinal, ou arco inguinal, contribui para fechar o espaço que existe entre as paredes abdominal e pélvica. Origina-se na tuberosidade do coxal e, após passar sobre o músculo iliopsoas, termina próximo da eminência iliopúbica do coxal, onde se confunde e continua com o tendão pré-púbico. O ligamento inguinal permite a inserção da aponeurose do músculo oblíquo externo (Figura 2.61) e a origem de grande parte do músculo oblíquo interno (Figura 2.63). Serve também de inserção caudal a fáscia transversa, que reveste a superfície interna do músculo transverso do abdome (Figura 2.64).
O ligamento inguinal forma a borda caudal do anel inguinal profundo (Figura 2.71). No espaço que finaliza caudalmente ao ligamento inguinal, entre este e a borda cranial do ílio, se encontram a lacuna muscular e a lacuna vascular (Figuras 2.61, 2.71). A lacuna muscular é o espaço que permite a passagem do músculo íliopsoas em seu trajeto desde o teto da cavidade abdominal até sua inserção no trocanter menor do fêmur. O músculo íliopsoas prossegue acompanhado pelo nervo femoral. A lacuna vascular, disposta ventromedialmente à lacuna muscular, permite a passagens da artéria e veia femorais em seu trajeto até a face medial da coxa.
Bainha do músculo reto do abdome
A bainha do músculo reto, formada pelas aponeuroses dos três músculos da parede abdominal lateral, envolve o músculo reto abdominal. Possui uma lâmina externa e uma lâmina interna. A lâmina externa é formada pelas aponeuroses dos músculos oblíquo externo e interno do abdome (Figuras 2.8, 2.63), enquanto a lâmina interna da bainha é formada pela aponeurose do músculo transverso do abdome (Figuras 2.64, 2.65). Ambas as lâminas acabam juntando-se na linha alba (Figura 2.65). Esta disposição, que aparece ao longo de grande parte do ventre do músculo reto do abdome, apresenta mudanças em áreas específicas. Assim, cranialmente ao umbigo, a aponeurose do músculo oblíquo interno é dividida e sua folha interna também participa na formação da lâmina interna da bainha. Além disso, na região inguinal, a aponeurose do músculo transverso do abdome passa a formar parte da lâmina exterior da bainha, de modo que a lâmina interna segue sem aponeurose (apenas a fáscia transversa e o peritônio cobrem internamente, nesse nível, o músculo reto do abdome) (Figura 2.64).
Músculos abdominais
M. oblíquo externo do abdome (Fig. 2.4, 2.60, 2.61)
M. oblíquo interno do abdome (Fig. 2.62, 2.63)
M. transverso do abdome (Fig. 2.14, 2.64, 2.65)
M. reto do abdome (Fig. 2.8, 2.14, 2.64, 2.65)
Canal inguinal e anéis inguinais (Fig. 2.66),
Ligamento ou arco inguinal. Espaço muscular e vascular (Fig. 2.61)